Bolha no Brasil: possibilidade preocupa analistas e dita ações do governo Por: Giulia Santos Camillo 12/11/09 - 12h07 InfoMoney SÃO PAULO - O mundo está vivendo a mãe de todas as bolhas de carry trade que, quando estourar, vai levar ao maior colapso coordenado de todos os tempos. Permeada pelo pessimismo característico de Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York e CEO (Chief Economist Officer) do RGE Monitor, a previsão levou os olhos do mercado novamente para a possibilidade de formação de uma bolha a partir do rali nos ativos de risco de mercados emergentes. As projeções do professor partem do pressuposto de que os investidores estão tomando empréstimos em dólares para aplicação em outros mercados, visando o ganho referente ao diferencial entre as taxas de juros - operação conhecida como carry trade. A bolha no Brasil Como era de se esperar, o Brasil está entre os mercados que têm recebido as aplicações estrangeiras. Não à toa, o fluxo de recursos internacionais acumulado entre janeiro e outubro está positivo em aproximadamente R$ 19 bilhões. O volume médio diário de negócios atingiu R$ 7,346 bilhões no mês passado, bem acima do registrado em outubro de 2008, de R$ 5,32 bilhões. O Ibovespa subiu 63,4% nos 10 primeiros meses do ano; o dólar caiu 25% frente ao real. Desde o começo do rali na bolsa paulista, é clara a noção de que a retomada foi conduzida pelos investidores estrangeiros. Caso a projeção de Roubini se concretize e a alta seja realmente uma bolha, o mercado - brasileiro e mundial - enfrentará uma quebra forte dentro de seis meses ou um ano. De acordo com Eduardo Miziara, analista de renda variável do BNP Paribas, os números acumulados no ano representam motivos de preocupação. "Mesmo que o governo e economistas, quando alertados sobre esse tema, afirmem (com boa dose de razão) que o Brasil é vítima do próprio sucesso, não podemos ignorar que hoje o País é um dos principais (se não for o maior) alvos dos recursos de carry trade", afirma. Miziara completa informando que "esse capital não é dos mais saudáveis". Segundo ele, a China controla o câmbio, a Índia tem restrições à entrada de capitais, e o Brasil é o mais liberal entre os membros do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). "Isso atrai os fluxos de capitais, mas deixa vulnerabilidades". O G-20, o IOF e a bolha A percepção de que há algo errado com o fluxo de capitais internacionais também permeou a reunião do G-20 no último fim de semana, embora nada concreto tenha sido decidido para conter o desequilíbrio do fluxo dos países desenvolvidos em direção aos emergentes. "Isso não quer dizer que nada será feito nesse sentido, mas apenas que as ações serão provavelmente independentes", afirma Mauro Rached, chefe de análise macroeconômica do BNP Paribas. "Depois que o Brasil impôs o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre investimento estrangeiro em portfólios financeiros, cresceram as discussões sobre as formas de conter tais fluxos. Países como Coreia, Tailândia, Turquia, Colômbia e até a deficitária África do Sul têm atuado de alguma forma para tentar atenuar os efeitos do ingresso de capitais sobre as suas moedas e as suas políticas monetárias", completa. Segundo Rached, é necessário monitorar os desdobramentos desse assunto, já que rumores sobre uma ação coordenada em relação aos fluxos de capital poderia ter impacto negativo sobre os ativos de mercados emergentes - tanto ações quanto moeda. Por enquanto, ao menos em relação ao Brasil, é certo que as medidas devem ser levadas a sério, já que a preocupação acerca de uma bolha é comum tanto a investidores e analistas quanto a autoridades monetárias. Na última terça-feira (10), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a taxação de IOF visa reduzir riscos futuros de bolhas e desvalorização ainda maior do dólar. "O que não queremos é que haja exagero de aplicações. Garantimos que não haverá bolhas na bolsa e nem excesso de valorização da moeda brasileira", assegurou. Fundamentos, não bolhas Há, por outro lado, aqueles que ainda apostam que o rali é inflado pelos fundamentos e não representa uma bolha. Entre eles, está o estrategista Jeffrey Palma, do banco UBS. "Nós não estamos no campo da 'bolha de ativos'. Na nossa visão, o rali nos ativos de risco tem sido justificado, baseado em uma precificação de recuperação do colapso do sistema financeiro, confiança na recuperação econômica e normalização dos valuations das ações de níveis pressionados". Junto com Palma alinha-se o investidor Jim Rogers, conhecido por ter previsto o início do rali das commodities, em 1999. Segundo ele, Nouriel Roubini está errado em relação à ameaça de bolha nos mercados emergentes. Ao ser questionado sobre a questão, em entrevista à rede de televisão Bloomberg, Rogers respondeu com outra pergunta: "que bolha?", completando que "está claro que o Sr. Roubini não fez sua tarefa, de novo". Especificamente em relação ao Brasil, no final de outubro, a MCM já havia manifestado a opinião de que não há bolhas no mercado de ações. Na última terça-feira, foi a vez do Citigroup dizer o mesmo, escolhendo o País como sua top pick entre os mercados latino-americanos. A estimativa do banco é de que o Ibovespa chegue a 80 mil pontos ao final de 2010. |
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