sexta-feira, 5 de junho de 2009

Pregões Incríveis: passados 10 anos, Nasdaq ainda não se recuperou da bolha '.com'

Pregões Incríveis: passados 10 anos, Nasdaq ainda não se recuperou da bolha '.com'

Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira
05/06/09 - 11h02
InfoMoney

SÃO PAULO - Alguns episódios da história parecem retrato da realidade atual. Muito antes, aparecem semelhanças impressionantes com outros eventos, como se o passado já houvesse sinalizado o que estaria por vir. A bolha tecnológica que abateu os mercados na virada para este século já mostrava correlação com o passado e mostra similaridades com o presente.

Histórias de supervalorização de ativos alertam para suas consequências desde 1929; para citar o episódio mais famoso. Mostram que supervalorizações, na maioria das vezes, resultam em correções tão ou mais dolorosas. Sugerem que os fundamentos prevalecem ao longo do tempo, que preços precisam ser sustentados pelo valor intrínseco dos ativos.

Revolução
A partir da década de 1990, o mundo assistiu à impressionante evolução dos computadores pessoais, ao surgimento da internet, à ascensão de companhias que promoveram esta revolução. Casos como Microsoft, Apple, Google ou Amazon.com mostram que ideias simples podem se tornar empresas de sucesso, com ganhos inimaginados até mesmo por seus idealizadores.

O índice acionário norte-americano Nasdaq também participa desta revolução. Criado em 1971, relaciona o primeiro caso de bolsa eletrônica visto pelos mercados. Surgiu com a evolução tecnológica, do aparecimento dos computadores. Mas o boom da informática viria 25 anos depois, com a difusão dos computadores pessoais e os primeiros passos da internet.

O boom no Nasdaq
Qualquer instituição, órgão, pessoa física ou empresa queria participar desta história. Viam a possibilidade de trajetórias como a da Microsoft se repetir. Muitas empresas de private equity adquiriram participações em companhias situadas no Vale do Silício e depois abriam o capital na Nasdaq. Pequenos empresários se tornaram milionários de uma hora para outra.

O estouro de empresas listadas na Nasdaq impressiona. De 1996 a 2000, o índice passou de 600 para 5.000 pontos. No pregão de 10 de março de 2000, chegou à máxima de 5.048 pontos, quase dobrando de valor em menos de doze meses.

Nova economia
Durante este período, chama atenção a onda de fusões de empresas, com destaque para a união entre AOL (America On Line) e o grupo Time-Warner. O negócio astronômico surpreendeu pelo fato da AOL, uma empresa nova com ações supervalorizadas, abocanhar um conglomerado centenário, um ícone em seu setor. Na época, a fusão criava a quarta empresa mais valiosa do mundo.

A partir de negócios como o da AOL/Time-Warner, no início de 2000, o mundo não via mais a possibilidade da economia sobreviver sem forte associação com o plano virtual. Mas a supervalorização dos ativos passou a ser evidente. Já nos pregões seguintes ao acordo, as ações da AOL experimentaram desvalorizações fortes.

Muitas empresas vinham desde 1995 acumulando ganhos na bolsa ainda sem registrar lucros sólidos. Sem dinheiro em caixa, algumas pagavam parte dos salários dos funcionários com ações, caso da produtora de softwares Microstrategy, o que estendeu o temor para os trabalhadores do segmento.

A bolha
Pouco a pouco, os fundamentos passaram a ser questionados. O mercado percebeu que a internet de fato viria para revolucionar, mas não havia espaço para uma infinidade de companhias que estavam listadas. Algumas começaram a cair junto, outras não resistiam e quebravam com a saída dos fundos de private-equity. Para muitas, o boom do setor se provava ilusório.

Outros fatores, como o aumento da participação de produtos de origem asiática no segmento ou uma piora da economia norte-americana, que puxou os níveis de desemprego da época, tornavam os 5.048 pontos cada vez mais distantes. Em 2001, a queda das torres gêmeas consolida a tendência negativa.

Quase 10 anos depois: recuperação ainda longe
A associação com a reação dos mercados ao atentado às torres gêmeas permite alusões à realidade atual. O episódio no World Trade Center, em meio ao boom das techs, alterou a maneira como os mercados olhavam para as coisas. Chama atenção um artigo de John Schwartz no New York Times, que fala em volta de antigos valores ao relacionar o atentado com o movimento do Nasdaq.

Da margem de 5.000 pontos do pregão de 10 de março de 2000, o Nasdaq perdeu mais de 5 trilhões em valor de mercado e chegou em 1.200 pontos em outubro de 2002. Não recuperou os patamares do início do século até hoje.

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